Comer é mais do que se alimentar
Em comemoração ao Dia da Alimentação (16 de outubro) o Sesc de Piracicaba organizou o seminário "Das prévias aos pratos" para discutir alimentação, nutrição e segurança alimentar.
Ontem participei da excelente e espirituosa palestra do Prof. Roberto da Matta, da PUC-RJ, ocasião em que pude parar para pensar um pouco sobre a diferença entre alimentação e comida: se se alimentar é nutrir o corpo com alimentos e energia para seu funcionamento, diferentemente, comer é mais que isso, pois é a comida - no seu modo de preparo, por quem e para quem é preparada, e como são os rituais para o consumo - que revela uma parte importante e fundamental da nossa cultura.
Pensar a comida como parte da cultura não é preciosismo acadêmico, se é que pode ter quem assim pense. Não. Pensar a comida como cultura é, entre outras coisas, formular uma política alimentar que respeite e abrace a diversidade cultural na mesa também.
Hoje, em passeio organizado pelo Programa Mesa Brasil de Piracicaba, fomos conhecer "in loco" como é o trabalho desenvolvido pelo Sesc na coleta e distribuição de alimentos doados.
É um trabalho magnífico. Além do total envolvimento da equipe que trabalha na coleta, seleção e distribuição dos alimentos, há muito profissionalismo, tanto na manipulação, armazenamento, transporte e distribuição dos alimentos.
Há 10 anos em Piracicaba, o programa é reconhecido e abraçado pelos doadores e conta com a colaboração de inúmeros estabelecimentos comerciais na cidade.
Nesta atividade tivemos a oportunidade de colocar as mãos na massa - ou melhor, nos alimentos - ajudando na seleção dos alimentos que seriam levados. Impressionou-me ver que aqueles tomates e pepinos que separávamos eram alimentos considerados fora dos padrões de mercado porque estavam com manchinhas, amassadinhos, formato "ruim para descascar" e por isso seriam encaminhados para o lixo. Na seleção dos tomates quase não acreditei que mais de 90% da caixa foi resgatada e na de pepino praticamente 100%. Moral da história: o desperdício ocorre não porque os alimentos estão ruim ou estragados, mas porque não comemos apenas com a boca e o estômago: comemos, sim, com os olhos!
E o mais emocionante foi ver estes alimentos, então, serem entregues em instituições e ver que crianças e idosos destes lugares alimentam-se com estes "restos" - que de resto não tem é nada, pois são alimentos perfeitamente saudáveis e adequados ao consumo.
Voltei para casa com o coração mais feliz, acreditando que há muito trabalho por fazer, mas, sobretudo, que há o que fazer. E é isso o que realmente importa.
Para quem quiser saber mais sobre o Mesa Brasil:
https://www.youtube.com/watch?v=lzghBOTHaiA