Desvestindo um santo para vestir outro?
Hoje fui almoçar um restaurante a quilo aqui perto de casa e lá, sobre todas as mesas, havia um bilhete. A gerente do restaurante se desculpava, informando que a partir de agora todas as bebidas seriam servidas em copos plásticos, para reduzir gastos com água.
Sim, certa está a gerente: se faltar água, como será feita a comida?
Mas não deixa de ser a materialização da expressão "desvestir um santo para vestir o outro": em nome da água - um recurso renovável, há que se lembrar - utilizaremos outro, não-renovável. A conta? Quem paga é a natureza e, de quebra, nós mesmos.
A crise da água não é uma crise de um recurso. É uma crise de recursos, os vários que irão ser mobilizados para supera-la; é uma crise da nossa sociedade, que não fiscaliza os governantes, que não se posta firmemente contra a corrupção e o autoritarismo.
Há males que vem para o bem e, nesse sentido, essa crise é uma excelente oportunidade de virada. Uma virada de (re)apropriação da cidadania, de perceber que tudo tem que ver com tudo e com todos, que dividimos o mesmo espaço e os mesmos recursos. Salvar-se-ão não os que fugirem daqui, como recentemente sugeriu uma das "autoridades" envolvidas na crise, mas, sim, se conseguirmos estabelecer uma nova forma de distribuição do acesso aos recursos ambientais, o que envolve, sobretudo, a utilização racional e responsável desse recurso, e esta, por sua vez, a fiscalização e a cobrança da população por medidas sérias e sustentáveis.