Dia do Consumo Consciente
Dia comemorativo nos remete geralmente à celebração, ao festejo de algo. Mas também pode nos lembrar de fatos que, a despeito de não serem agradáveis, precisam ser lembrados, para que aprimoremos nossos comportamentos, façamos uma reflexão, melhoremos nossa vida de algum modo.
Pois é. Hoje é dia do consumo consciente, mas só quando prestei atenção ao calendário é que me lembrei disso, apesar de ter entrado em algumar redes sociais e lido notícias de jornal hoje. No entanto, nenhum post no meu mural, nenhuma notícia sobre este dia - ao menos nas mídias que costumo acessar.
Pra falar a verdade, melhor dizendo, sim, houve apenas uma referência a este dia, que foi pela newsletter do Instito Akatu.
Pode ser exagero, talvez pelo apreço que tenho por temas que envolvem consumo e sustentabilidade e pela importância que, na minha modesta opinião, deveria receber. Contudo, tenho a impressão de que isso possa estar sinalizando para um certo "cansaço" com o assunto e, para quem mora em São Paulo, talvez até uma certa ojeriza , já que as caixas d´águas na capital são testemunhas de que reduzir até que dá; o problema é viver sem.
A toda hora os consumidores são convocados para contribuir: reduzindo o uso da água, comprando produtos ecologicamente corretos, orgânicos, todos os tipos de alimentos e produtos "alguma-coisa-free", separando os resíduos... se levarmos ao pé da letra, a lista é quilométrica, mas na hora de ver algo acontecer, cadê o resultado? As ruas continuam sujas, os bueiros entupidos (pelo menos, sem chuva, esquecemos de como faz falta a sua limpeza), os preços de tudo subindo. Mesmo quando as coisas parecem querer sinalizar uma mudança, como o recente surgimento do Uber (e da polêmica que veio a reboque), e até as ciclovias do Prefeito Haddad, mesmo assim, tudo parece devagar, sem vigor. Até a própria Lei de Resíduos Sólidos, que previa o fim dos lixões no ano passado teve de ganhar uns anos adicionais de fôlego, pois a maioria das prefeituras não havia providenciado nada em matéria de gestão dos resíduos sólidos.
Por isso a participação do cidadão não pode se resumir a ser um bom consumidor: é preciso ir além, porque a carga é grande demais, inalcançável para os indivíduos, porque, sozinhos, somos pouco. A matemática da sustentabilidade indica que o todo neste caso,não é, definitivamente, igual, muito menos maior, que a soma das partes.
Há mudanças no campo do consumo e do comportamento do consumidor, como há também, mudanças que precisam acontecer no campo da produção, bem como no de controle do Estado. Por isso, separar lixo, consumir produtos orgânicos, ir trabalhar de ônibus por opção, pensar antes de consumir são atitudes importantes, mas não suficientes, em si, para promover as mudanças.
No dia do consumo consciente, portanto, façamos uma reflexão sobre o que faz a nossa consciência: queremos nos livrar da culpa, para dormir sossegados sabendo que separamos o lixo nosso de cada dia ou queremos, sim, garantir um mundo habitável para as futuras gerações? Queremos acreditar cegamente na tecnologia como nossa salvação para os problemas ambientais ou enfrentar o fato de que melhorar a eficiência dos bens de consumo é apenas parte da solução, já isso não garante, necessariamente, que tanta gente por aí, que mal consome o mínimo para sobreviver, possa um dia ter os suficiente para viver dignamente?
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